26 de março de 2024

O Jornalista e o Poeta

O Jornalista e o Poeta

Solange Lisboa

A manchete é sobre um coração esquecido.

Não era um coração fingido,

Mas abandonado,

No quarto de um hotel,

No silêncio do espelho.

Ou no saguão de aeroporto.

Estava muito fraco e sofrido,

Esquecido num semáforo vermelho,

Numa rua deserta.

Chegaram os médicos.

E o diagnóstico era morte certa.

Não tinha documento.

Nem havia endereço.

Anônimo, ilustre desconhecido.

O jornalista diz: “Achado coração Ferido”

Dá a notícia, indiferente,

Vira a página, segue em frente.

Os médicos tentam desfibrilador,

E o pobre órgão sente,

Treme do choque e de dor.

Todos comemoram.

Volta a pulsar, fica alerta,

Estranhos, emocionados, choram.

Havia morrido de abandono,

Acaba de renascer.

Pobre coração sem dono.

Volta a viver por engano,

No peito de um sonhador.

Não devia ter reagido,

Preferia ter partido.

Vai acontecer de novo, qualquer dia,

Por desamor ou decepção.

Com mil batimentos poéticos,

Palavras, versos, rimas e metáforas.

Cobertos de emoção,

Tão densa, que impedem a circulação,

Na manhã seguinte, em primeira página,

O artigo do jornalista anuncia:

“Morre nessa noite fria e escura

Sem estrelas e encoberta,

Um apaixonado e solitário,

Coração de poeta”

Solange Lisboa 22/03/2024.

Escritora/Poeta

_@sollisboapoeta

[email protected]

Compartilhe esta notícia