29 de fevereiro de 2024

A carta

A carta

O mundo ao redor evoluiu, evolucionou. Não que eu tenha ficado para trás, caturra, antiquada ou bolorenta, mas algumas coisas, não consigo abandonar, simplesmente decidi manter; e escrever cartas é uma delas. Nem sempre tenho um destinatário e muitas, acabam guardadas em uma pilha, já existente; em algum momento, ainda se tornarão páginas de um livro.

Mas tenho alguns amigos verdadeiros, digo verdadeiros, porque, apesar da correria atual no mundo cibernético em que vivemos, tiram um tempinho, para escrever-me algumas linhas, pelo simples motivo de saberem que ficarei feliz em recebê-las.

E não consigo descrever a alegria que sinto, como uma criança que recebe um embrulho feito com todo esmero, usando aqueles papeis coloridos e Laços de fita; mas, é exatamente assim que me sinto quando chega carta.

Frente a mudança de hábitos por conta dos atuais e magníficos inventos, encanta-me ainda, digo isso com muita satisfação, receber correspondências.

Um desses queridos amigos, enviou-me um pacote, contendo muitas linhas de escrita à mão, acompanhando mimos de toda espécie. Desde livros, camisetas e boton. Mas a emoção é receber a carta em si e especialmente, escrita à mão!

Outro dia recebi uma dessas, com poucas linhas, mas dentro do envelope havia pétalas de flores de várias cores e algumas folhas; já chegaram murchas é verdade, mas guardei logicamente, com todo cuidado entre as páginas do livro que a acompanhou. Esse foi um dos mimos mais impressionantes recebidos e que me iluminou o dia!

Ainda há pessoas com essa atenção e delicadeza, e são raros, nesse novo século, em que nós, intensos, nos desafiamos a viver, onde muito se olha, mas pouco se vê das pessoas.

Na verdade, hoje, a “Empatia” é só uma palavra, a maioria de nós não se dispõe a fazer pelo outro, aquilo que, na verdade, gostaríamos que fizessem por nós. É por isso que ainda escrevo cartas; porque tem pessoas dispostas a receber, ler e responder.

A geração atual, nunca vai entender essa sensação magnificente, de saber que alguém, mesmo distante, dedica tempo para enviar-lhe uma mensagem guardada em um envelope, que viajará por vários lugares antes de chegar as nossas mãos.

Eu acho esplendido, podermos nos comunicar de longe, em tempo real, com pessoas ao redor do mundo, no entanto, a emoção e a surpresa se perdeu na urgência da comunicação. O mundo tem pressa. E nessa ânsia, acaba atropelando a profundidade e a grandeza dos detalhes.

Hoje possuímos uma gama de aplicativos e plataformas de comunicação a distância e o ser humano, está cada vez mais distante. Apesar da existência de Facebook, Messenger, Hangouts, Kik Messenger, Skype, Telegrama, Viber e Chat, algo nos falta; há uma solidão no mundo, causada pelo individualismo, pela falsa ilusão de proximidade.

 

Talvez acreditássemos que com o advento da internet, 3 G, 5G, sobraria mais tempo livre, todavia, quando nos sentávamos para escrever para alguém distante, ou na mesma cidade (cartinha do amor), a vida parecia não ter pressa e agora que temos tantos recursos em mãos, nem nos resta tempo para pensar nessa delicadeza, de encantar alguém, com um envelope cheio de flores e doces palavras, chegadas pelo correio!

E é por esse motivo, que precisei averbar aqui, esse carinho que me causou imensa emoção ao receber!

Continuarei escrevendo cartas e manifestando nelas, a essência do meu ser poeta, e da minha alma antiquada, talvez, mas completamente autêntica!

Solange Lisboa 27/02/2024

Escritora/poeta

@solnlisboa

[email protected]

 

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