4 de janeiro de 2024

A incessante busca do ser humano!

A incessante busca do ser humano!
Solange Lisboa

Essa felicidade que supomos
Arvore milagrosa que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos

Existe sim, mas nunca a encontramos
Porque ela está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos.

(Fernando Pessoa)

 

A incoerência humana chega a impressionar, quando esquecemos com facilidade os fatos que constituem a tão almejada felicidade e, sendo esta, tão sem forma e indescritível, a perdemos de vista com frequência, ou deixamos escapar por entre os dedos, ou ainda, fechamos os olhos para absorve-la melhor, e ao reabri-los percebemos que a paisagem já mudou, e assim, parece estarmos sempre a um passo de alcança-la.

Quando conseguimos após muitas lutas, esforços físicos, mentais, intelectuais e emocionais, e o sonho está realizado bem ali a nossa frente;

essa fração de segundos ou minutos, transbordam de alegria nossos olhos e coração. Muitos chegam as lágrimas, outros gritam bem alto em ritmo de alegria “Uhuhuu”, outros ficam incrédulos e como costumamos dizer, nós que vivemos nos anos 60, 80: “Custa cair a ficha”.

Mas na verdade, só vamos nos dar conta desse fato glorioso no futuro, quando essa emoção já estiver no passado, pois é quando poderemos avaliar os fatos e saborear a plenitude daquele momento tão fugaz e é por isso que muitas vezes dizemos como Ataulfo Alves Eu era feliz e não sabia

Por razões diversas, estamos sempre tentando alcançar essa satisfação, correndo pela vida rumo ao que denominamos “nossas metas”, “nossos alvos”. Sacrificamos tudo o que nos parece de menor valor para alcançar aquilo que motiva nossa escalada pelas íngremes encostas que constituem os degraus para realizarmos nossos sonhos;

Digo que sacrificamos o que é de menor valor, porque o bem mais precioso é a própria vida, e esta não pode ser dada em penhor dos nossos objetivos, ainda que eles sejam praticamente, muitas vezes, a razão de nossa existência.

Mas todos nós, somos confrontados com a finitude da vida e nos deparamos com uma quebra nos planos; uma rota que foi traçada durante anos, um mapa do tesouro contendo em um determinado ponto a momentânea e instável F E L I C I D A D E, mas que pela fragilidade do ser, em presença do fim, a que todos nós estamos fadados em algum momento, acaba perdendo-se, embora todo o resto permaneça. Como diz Caetano Veloso: “Apenas a matéria vida, era tão fina”.

Tudo que era tão almejado, tão elaborado para dar certo, aqueles planos, os diários escritos secretamente, as mensagens guardadas no fundo de uma caixinha, findam em alguma gaveta de armário, no esquecimento, ou quem sabe vão parar em uma lixeira; muitas vezes se perdem na voragem da vida sem que ninguém jamais saiba dos nossos propósitos e nossas conquistas!

Portanto, quando o momento presente, como uma brisa suave, nos acaricia enquanto abrimos os olhos ao amanhecer e podemos, ao logo das horas, sonhar e direcionar esses sonhos e energias para o bem, então vivamos esse momento, porque a felicidade, embora, como já mencionei, seja indizível e amorfa, está no aqui e agora de cada vida, enquanto ainda é hoje!!!

 

Solange Lisboa 17/07/2023

Poeta/escritora

@Solnlisboa

[email protected]

 

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