1 de fevereiro de 2023

A RELIGIÃO EM TEMPOS DE GLOBALIZAÇÃO GOSPEL NAS DÉCADAS DE 80 e 90: A IGREJA EVANGÉLICA APOSTÓLICA RENASCER EM CRISTO- IEARC.

A RELIGIÃO EM TEMPOS DE GLOBALIZAÇÃO GOSPEL NAS DÉCADAS DE 80 e 90: A IGREJA EVANGÉLICA APOSTÓLICA RENASCER EM CRISTO- IEARC.
Sérgio Barbosa

“O Homem religioso assume um modo de existência específica no mundo, e apesar do grande número de formas histórico-religiosas, este modo específico é sempre reconhecível. Seja qual for o contexto histórico em que se encontra, o homo religiosus acredita sempre que existe uma realidade absoluta, o sagrado, que transcende este mundo, mas que aqui se manifesta, santificando-o e tornando-o real. (Mircea Eliade)

Sérgio Barbosa (*)

 

O Nascimento…

A Igreja Evangélica Apostólica Renascer em Cristo- IEARC foi inaugurada em 12 de março de 1986.

Toda a história da Igreja, especialmente seu início foi permeado por visões e manifestações sobrenaturais de Deus. O início da Igreja aconteceu através de um encontro entre o Apóstolo Estevam Hernandes e Deus. O resultado desta “visão” foi o despertamento para iniciar o trabalho missionário e visionário da Igreja através do seu fundador.

Toda as etapas após este início, bem como, a infraestrutura interna e externa da Igreja Evangélica Apostólica Renascer em Cristo- IEARC é revestido pela linguagem mítica e sobrenatural, reforçando  a certeza da aprovação de Deus para o início da Igreja.

Ainda,  sobre a linguagem que envolve a narração da História da Igreja, o Apóstolo Estevam Hernandes torna-se o receptor maior da fala direta de Deus, inclusive com “chamadas” de Deus para interferir nas atividades e demais encaminhamento da Igreja, mostrando desta forma, pelo menos duas coisas: 1. que o Apóstolo Estevam Hernandes tem toda a intimidade necessária com Deus e 2.  que a direção, mesmo que à partir de Estevam Hernandes , teve a aprovação e o controle de Deus em fazer aquilo que Ele mesmo, Deus, queria.

As evidências que se colocaram na História da Igreja não deixam dúvidas sobre o desejo de Deus para o casal Hernandes (Estevam e Sônia) e a obra pretendida por Deus. Toda linguagem é sobrenatural e confunde-se com o natural. Então, a desilusão do casal com as igrejas anteriores já mostra que Deus estava preparando-os para um novo trabalho, com novas ênfases.

A secularização caminhou junto com a sacralização do mundo. Num determinado momento se reuniram numa pizzaria, mas os donos os mandaram embora porque o grupo estava atrapalhando a venda de cervejas.

O espaço não sagrado colaborava para o convite ao novo, à uma nova ideia de Deus, e ao mesmo tempo sacralizava a visão de Deus que os fazia crescer.

E essa restauração integral do homem, “espírito, alma e corpo” foi dado a eles como missão para a igreja em formação.

Essa intervenção divina produziu o significado necessário para a motivação do grupo em missão e propósitos. O que viria depois seriam as estratégias para se conseguir efetuar a visão de Deus.

 

O  Desenvolvimento…

A IARC cresceu sob a identificação com a música jovem. Com o objetivo de de conquistar jovens.  Estevam  Hernandes desenvolveu estratégias visando a utilização do termo “Gospel”,  que se refere primeiramente à música negra norte-americana e transformou esse gênero musical em todos os possíveis gêneros  musicais brasieiros.

Para que a música estivesse caracterizada como “Gospel”, era necessário que as letras se adaptassem aos meios evangélicos, bem como, com letras que transmitissem a mensagem de Deus numa linguagem jovem.

Neste contexto musical, surgem  a Banda “Gospel”- Katsbarnéa,  o primeiro grupo “Gospel” a gravar um disco. Essa banda ganhou um festival de música famoso entre os jovens chamado “Festival do Fico”, que lançou bandas “seculares”, por exemplo “Paralamas do Sucesso”.

Da banda Katsbarnea, surgiram outras que se compuseram sob o guarda-chuva da nova empresa que o Estevam  Hernandes controlava-  a Gospel Records. Os eventos musicais foram acontecendo sob a “visão” mercadológica do Apóstolo Estevam Hernandes, resultando bons dividendos para a gravadora “Gospel”, ao mesmo tempo, este  “gênero musical evangélico” foi aos poucos  conquistando novos espaços, até mesmo nas “denominadas” Igrejas Protestantes Históricas.

O resultado foi que a Igreja cresceu assustadoramente, possuí hoje mais de 200 (década de 80) templos espalhados pelo país, ainda, realizava três cultos dominicais em sua Igreja sede na capital paulista e está presente em outros países.

A Igreja tem vários projetos sociais de grande impacto, mas sua força está na área da comunicação. Sua estrutura é sólida e se mantém sob a liderança do casal Hernandes (Apóstolo Estevam e Bispa Sônia).

Sob os temas da contextualização e do afrouxamento dos “usos e costumes” mantidos ainda pelas muitas igrejas evangélicas, com uma teologia não definida, ambígua até, aberta mas completamente limitadora e facilmente identificável, e com estratégias e planos de marketing muito bem definidos, inclusive na área da política, a Igreja continua crescendo em ritmo acelerado no país, principalmente no interior do Estado de São Paulo.

E foi com sua visão de longo alcance e uma enorme sensibilidade para analisar o mercado e o futuro das organizações que ele projetou, criou e desenvolveu a IARC sob o tema maior da comunicação.

A Comunicação…

A igreja sempre teve seus alvos bem definidos quanto ao impacto que queria provocar através dos meios de comunicação de massa. O espírito empreendedor do “marketeólogo” Estevam Hernandes sempre utilizou o poder da mídia para desenvolver seus projetos religiosos, conseguindo desta forma, fortalecer a logomarca “Renascer em Cristo” no mercado institucional-eclesiástico.

Fundou a Rede Gospel de Comunicação- RGC, utilizando a palavra “gospel” como marca publicitária da empresa A RGC administra e coordenada os programas veiculados nas diversas emissoras de rádio através da Gospel Sat (AM/FM),  Rede Manchete  de Televisão (Renascer, De Bem com a Vida, Clip Gospel, Espaço Renascer, Sábado Especial e Espaço Renascer) e Rede Gsopel (Multicanal/NET 28, TVA 76 e Canal 53/UHF).

Com uma programação ágil, cópias de jingles, vinhetas e locutores de outras rádios, e usando moldes seculares para a transmissão da mensagem sagrada, portanto, o rádio inovou ao eliminar as mensagens constantes, os relatos de curas comuns nas AM’s evangélicas, e inseriu muita música com dicas culturais, participações ao vivo, anúncios de programações no “point” da IEARC, promovendo bandas gospel e criando espaços para divulgação dos trabalhos desenvolvidos pelas diversas denominações evangélicas sem custos operacionais.

Através desta prestação de serviços diversos via emissoras de rádio, a RGC conseguiu atrair a atenção de jovens evangélicos que antes, só “ouviam música secular”, divulgando aos ouvintes evangélicos, algo que não existia em sua fé, que é o orgulho de não ser “careta” ou  “alienado”,  a importância de estar em sintonia com o seu mundo.

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(*) Jornalista diplomado (1.983), Mestre em Ciências da Religião pelo PPG/CR-UMESP (1.997) e Pesquisador da Cátedra Unesco/Umesp de Comunicação.

e-mail: [email protected]

 

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