31 de janeiro de 2023

Governo Lula abre espaço para linguagem neutra; entenda por que isso é um erro

Governo Lula abre espaço para linguagem neutra; entenda por que isso é um erro

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já deu sinais de que a linguagem neutra fará parte da nova gestão. Na posse de seis ministros, essa alteração de grafia, que não está prevista na língua portuguesa, já foi utilizada. A Agência Brasil, site oficial de notícias do governo federal, agora administrado pela equipe de Lula, também usou o dialeto em alguns conteúdos. Contudo, especialistas em língua portuguesa afirmam que essa mudança é meramente ideológica e não tem fundamento científico.
A professora de português e especialista em psicopedagogia, Kátia Simone Benedetti, explica que a linguagem neutra é uma tentativa que vai contra a natureza da cognição linguística de falantes de um idioma no qual a marcação de gênero é binária. Ou seja, a cognição linguística, formada no processo de aquisição da língua durante a infância, é formada por uma “bagagem inconsciente de conhecimento abstrato” sobre a estrutura do idioma.

“Esse conhecimento é usado naturalmente e fluentemente pelo cérebro, sem o uso dos sistemas e/ou recursos conscientes de processamento que demandam custos. Esse conhecimento espontâneo e inconsciente não requer custos cognitivos e por isso podemos usar a linguagem com tanta facilidade”, diz a professora.

Mas o emprego do gênero neutro vai contra essa naturalidade, pois exige que seja necessário alterar a estrutura das frases e usar recursos cognitivos que não são adequados para o processamento espontâneo da linguagem. Segundo a professora, a marcação de gênero também não é algo relacionado à sexualidade humana, mas à estrutura do sistema linguístico que se refere ao sistema de concordância entre os termos das frases.

“É um recurso que nosso cérebro usa para correlacionar as palavras dentro da estrutura frasal, de modo que possamos saber ‘quem se refere e se relaciona com quem’. A marcação de gênero pode coincidir com o gênero biológico nas palavras designadoras de seres biológicos, mas isso não implica que o gênero gramatical equivalha ou expresse especificamente o conceito de gênero biológico”, afirma.

A professora aponta também a ampla extensão do emprego desse dialeto, já que não são apenas os substantivos e adjetivos que flexionam em gênero, mas também os artigos e pronomes adjetivos. Ela dá o exemplo do uso de “amigues” ou “todes”. “Eu até posso mudar a forma fonológica dessas palavras, mas mudar todas as estruturas frasais para flexionar os determinantes e fazer as concordâncias necessárias é uma tarefa altamente custosa, do ponto de vista cognitivo”, explica. “É antinatural e mentalmente muito cansativo. Por exemplo, ao falar ‘meus amigues’ ou ‘minhas amigues’, eu automaticamente já usei a marcação binária nos pronomes meu e minha”, acrescenta a professora.

Apoiadores da linguagem neutra utilizam como justificativa de que a língua muda com o tempo. Contudo, essa afirmação é equivocada, segundo Benedetti. Isso porque a língua se altera, mas naturalmente, de forma espontânea, e não de maneira impositiva, assim como militantes buscam inserir.

“É uma proposta que ignora a própria natureza da relação linguagem-mente, pois pressupõe que mudanças superficiais na linguagem podem alterar o modo como nosso cérebro descreve semanticamente o mundo”, comenta a pesquisadora de metodologias de alfabetização.

 

 

 

Fonte: Gazeta do Povo

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