AVISTA-SE FUMAÇA NO AGONIZANTE PLANETA TERRA
Como dizia meu pai, que era bem-humorado: “Desgraça pouca é miséria”.
Não bastassem as dores que já assolam toda a humanidade diante de fatos que mesmo acontecendo do outro lado do mundo, não isenta nenhum ser vivente das danosas consequências, como as guerras e guerrilhas, as injustiças, a fome, o desemprego, as calamidades, os abusos contra mulheres e crianças, o desrespeito para com as leis, vitais para se manter um mínimo de urbanidade e as inevitáveis catástrofes; agrega-se a tudo isso, os incêndios criminosos.
O Brasil e o planeta gemem; o pulmão do mundo precisa de oxigênio; toda a terra está infectada pela ganância desmedida e pela falta exacerbada de amor.
Deixo aqui meu parecer, como simples humano que caminha lado a lado com os milhares que sem poder de voz, não entram no mérito das questões, mas que sentem e observam tudo que acontece ao redor.
Os ambiciosos e calculistas, dotados de frieza, como rolos compressores, passam por cima da natureza, de qualquer vida, seja ela humana ou não, para conseguirem suas riquezas e a sensação de poder que deriva do acúmulo de valores.
Os que são esmagados, pelas camadas ditas superiores, e que formam, mesmo que involuntariamente, a base desse sistema, são os que mais sentem, são os que esperam demais por leis que venham coibir os excessos, mas já estão cansados e desanimados diante das injustiças e da impunidade.
Parece que o “bem” e o “mal” andam de mãos dadas e os valores estão envolvidos em tramas e golpes de modo que nada mais é confiável e acaba levando ao desânimo e a desesperança de que algum dia o “bem” possa desvencilhar-se do mal, e prevaleça.
Quero abrir apenas uma dessas desesperadas janelas da vida na terra. A fumaça das queimadas invade o ambiente, cega-me a vista, seca-me a garganta, mata minhas plantas e adoece os animais.
Não há mais passarinhos no imenso jardim, as árvores pereceram, as folhas e as flores derreteram sob o inferno que se alastra. Os felinos e toda espécie animal foge sem ter para onde ir, buscam água, mas não encontram, tentam respirar, mas o dióxido de carbono os sufoca.
O que pensam os que destroem a própria casa? Que mundo deixarão para seus filhos, netos e bisnetos?
Seus netos herdarão seus milhões; cofres abarrotados de moedas de ouro a preço de sangue. Para gastar com o quê? Para comprar uma bolha de oxigênio, um lugarzinho em algum outro planeta?
Desgraçadamente, perceberão que tudo o que herdaram não os pode tirar da miséria em que se encontram, das doenças que os assolam, do individualismo chocante e do desamor fatal.
Um planeta destruído; em ruínas; o que é pior, sem saída de emergência!
Será que é tão difícil entender que não haverá lugar para se firmar, quando o chão faltar debaixo dos seus pés?
Não veem que não haverá uma sombra onde possam descansar do sol escaldante?
Não veem que esse planeta que destrói é o único refúgio em todo o universo conhecido?
Será que um dia vamos chorar ao ouvir a letra de Zé Miguel e vamos nos lembrar de nosso verde das matas e do azul de nossas águas?
“Eu amo você, terra minha amada
Minha oca, meu iglu, minha casa.
Eu amo você, perola azulada,
Conta no colar de Deus, pendurada.
A benção, minha mãe.
Já aprendi a nadar em seu mar azul.
Adorar água, homem, peixe, água.
Fonte iluminada.
Já aprendi a ser parte de você.
Respeitar a vida em sua barriga.
Quantos mais vão aprender’”(Canção Pérola Azulada-Zé Miguel)
Solange Lisboa
Escrtora-Poeta
@sollisboapoeta