A Partida
Créditos da imagem @bysebar- Repórter Sergio Barbosa
Ainda paramos uma vez, diante da velha casa. Ela parecia entender que todos estávamos partindo. Conhecíamos profundamente os sons da nossa morada desde a infância.
Sabíamos onde estavam as goteiras, qual porta arranhava o assoalho, qual degrau rangia ao subir ou descer; nas noites chuvosas, havia sempre um pingo insistente caindo em alguma superfície de lata e fazendo aquele som que a princípio incomodava, mas no final nos fazia adormecer.
A casa era sempre uma festa, corríamos por todos os lados. Havia flores e pássaros na janela. Um pequeno tanque no jardim, parecia um lago encantado para mim. Lá moravam um pequeno sapo, muitas lagartixas e borboletas de todas as cores.
Os beija-flores vinham pousar nas rosas e margaridas e foi por causa dessa desmedida beleza, que passei a amar os pássaros e a natureza.
Mas agora, nosso jardim, nosso quintal e nossa casa, ficariam ali. Ah! Se pudéssemos levá-los conosco!
Seriam lembranças que ninguém jamais conseguiria apagar, até as folhas das janelas que sempre ficavam batendo com as rajadas de vento, agora pareciam pesadas demais para fazer qualquer movimento.
Olhávamos com um último olhar. Malas nas mãos. Sonhos na mente. Lágrimas nos olhos. Era a vida nos chamado para longe, para outros caminhos e horizontes.
A casinha ficaria bem; quem sabe um dia nos veríamos novamente, se ela resistisse ao tempo ou se houvesse oportunidade de regressar, ou mesmo se tivéssemos desejo de fazê-lo.
Minha mãe dizia que quando as cortinas da cidade grande se abrissem, nossos olhos ficariam enfeitiçados e nós seríamos arrebatados pelas cores e o luxo que se apresentaria em nosso novo universo.
Partimos! Fomos em busca de conhecimento e formação; abandonando nossa primeira e feliz etapa da vida. Nossos interesses seriam outros e talvez quem sabe até iriamos achar que nossa infância fora monótona, mas com certeza ao cair da tarde, depois de muitos anos na cidade, entenderíamos que aquele amanhecer de nossa vida, teria sido a melhor parte já vivida!
Solange Lisboa
27/06/2024
@sollisboapoeta
