Sonolência
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Norma Santi - Escritora
Estou na porta entre o sono e acordada. Meu gato não sabe que hoje é sábado e me chama alarmado: quer comer! Sua fome vem do corpo e é diferente da minha. Tenho um calor que não abrisa, dentro de um peito que abriga tanto. Desperto meus dias com as mesmas cores e vozes idênticas.
Quem dera um mergulho numa água em que eu pudesse deixar meus sufocos, meus suspiros enviados pela alma ou a lágrima que secou pela metade. Este ser humano aflito que sou e que flagro distraidamente no espelho.
Velo sonhos. Regurgito poemas enquanto espero que a vida me acolha, que me abrace e que surpreendentemente me acalme.
Sou dada a inquietudes e despertares apagados, sem a bondade intrínseca do sol.
Quero o comum: a suavidade da brisa da manhã ou o cheiro do café que me faz saber que te amo.
Logo mais estarás na soleira da minha porta. Trarás frutas, cheiros do mato e da horta. E eu saberei então que estou viva e novamente saberei que te amo, mas saiba que me calarei a tarde.
Tenho um peso que insiste em voltar e minha alegria desaparece como o fogo. Fui alegre um tempo, mas meus olhos desbotaram com o fim dos dias de infância.
O chão em que caminho é estranho. São vagas as lembranças de cheiros que se vão longe. Neles moram pensamentos de abrigo. Dentro de mim sobressaltam pensamentos e então sei que preciso voltar à terra que nunca visitei.
Norma Santi – Escritora