Pouco mais de 24 horas após o anúncio do surgimento de uma nova variante da Covid-19 na África do Sul, nações de todos os continentes começaram a articular medidas restritivas e estratégias para evitar a disseminação do B.1.1.529 para outros países. De acordo com informações cedidas em uma coletiva de imprensa, a cepa, identificada pelo pesquisador brasileiro Tulio de Oliveira, do Instituto Nacional de Doenças Transmissíveis da África do Sul, mostra “um grande salto na evolução” do vírus, com pelo menos 50 mutações, a maioria delas na proteína spike, que ajuda o vírus a entrar nas células humanas. A maior parte dos casos detectados na África do Sul está na província de Gauteng e ainda é cedo para saber como o vírus reagirá às vacinas que são aplicadas atualmente no mundo. Parte das mutações já foram encontradas em outras cepas e outras são completamente novas, mas o consenso entre os cientistas é de que não é possível responder todas as perguntas sobre a mutação no momento.
Especialistas da Organização Mundial da Saúde denunciaram que o surgimento da nova mutação pode ser considerado um reflexo do “apartheid vacinal” vivido no mundo. De acordo com a plataforma Our World In Data, enquanto 53,9% de toda a população mundial recebeu pelo menos uma dose do imunizante contra a Covid-19 e alguns estão aplicando terceiras doses em seus cidadãos, apenas 5,6% da população dos países pobres foi parcialmente vacinada até o momento. Na África do Sul, cerca de 23% das pessoas estão totalmente imunizadas, o que mostra uma desigualdade na distribuição, mas levanta a esperança de que o vírus não se espalhe com tanta facilidade em populações mais imunizadas, como o Brasil.
Infecções encontradas fora da África
Na manhã desta sexta-feira, 26, poucas horas após o anúncio da nova variante, o Ministério da Saúde de Israel anunciou que detectou um caso da B.1.1.529 em um viajante vindo do Malaui. O órgão também informou que outros dois casos em pessoas que chegaram do exterior são investigados enquanto os viajantes estão em confinamento obrigatório. Todos os três casos (suspeitos e confirmado) ocorreram em pessoas vacinadas. O estado de saúde delas não foi divulgado. O segundo caso confirmado da mutação fora da África foi registrado em Hong Kong e na Bélgica, o caso confirmado foi de uma mulher “adulta, jovem, que não se vacinou contra a Covid-19” e tinha feito uma viagem ao Egito. Fora da África do Sul, que tem 77 casos confirmados, quatro registros foram feitos em Botsuana.
Países bloqueiam a entrada de viajantes
Por causa da descoberta, o Reino Unido decidiu banir todos os voos que viessem do país africano e de outros seis vizinhos da região sul do continente, passando a obrigar aplicação de quarentena para aqueles que voltassem desses destinos. Medidas similares foram feitas pela Alemanha, que barrou a entrada dos viajantes procedentes do país, e pela Itália, que também não permitirá a entrada de ninguém que passou pela África do Sul e de outras seis nações nos últimos 14 dias. O Japão também anunciou que obrigará todos os viajantes do sul africano a passarem 10 dias de quarentena em um espaço designado pelo governo após chegada no país. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgou nota recomendando que o governo brasileiro aplicasse medidas de restrição a voos vindos da África do Sul, Botsuana, Eswatini, Lesoto, Namíbia e Zimbábue. O documento sugere a suspensão imediata de todos os voos vindos dos países, a suspensão temporária da autorização do desembarque de estrangeiros que passaram por algum desses países nos últimos 14 dias e a realização de quarentena para os brasileiros que tenham passado pelos locais. É necessário, porém, uma decisão conjunta entre as pastas do governo federal para que essa recomendação entre em prática.
Fonte: Jovem Pan