17 de maio de 2019

Resgatar a cultura de paz em tempos de violência

Resgatar a cultura de paz em tempos de violência
Carlos Eduardo Bertin - Jornalista - Colunista - Opinião

Resgatar a cultura de paz em tempos de violência

A cultura de paz é compreendida como um mosaico de identidades, atitudes, valores, crenças e padrões que levam as pessoas a se relacionarem umas com as outras, lidando com as diferenças e compartilhando seus recursos (Boulding, 2002). Trata-se de uma metodologia que visa à resolução de conflitos por meios não violentos e que tem como axioma o diálogo, o respeito, a segurança e a dignidade de todos.

No entanto, a cultura de paz foi interpretada por muito tempo, por pessoas e organizações, como passividade diante das atrocidades cometidas pelos governos, pessoas e instituições. Desse modo, o silêncio diante das brutalidades apenas contribuiu para aumentar a fome, as desigualdades e a violência.

A sociedade contemporânea assiste a inúmeros conflitos de natureza política, ideológica e social. Os impasses em tornos dos rumos da humanidade fazem com que o ser humano viva em constante medo, tensão e desconfiança. Esses dilemas dizem respeito a questões que envolvem todo o globo, como os conflitos na Síria, a guerra Israel/Palestina, a crise imigratória, as questões ambientais, a fome, a desigualdade social, além do racismo e da violência de gênero.

No Brasil, motivado por interesses de grupos neoliberais e conservadores religiosos cristãos, o governo de Jair Bolsonaro ataca, por meio dos discursos, do corte de verbas à cultura e educação, retirada de direitos, censura às artes e comerciais, os trabalhadores, estudantes, professores e grupos que buscam espaços na sociedade. O cientista brasileiro Miguel Nicolelis foi certeiro ao afirmar que o golpe que o país vive hoje é muito pior do que o golpe de 1964, pois este “carrega dentro dele a semente da destruição”.

Diante da complexidade dos tempos atuais, pode soar um tanto utópico pensar em uma sociedade pacífica. Afinal, as violências físicas e simbólicas que permeiam o campo social são um reflexo do pensamento demoníaco e autoritário que adquire ainda mais força ao chegar às esferas do poder.

O desafio que se apresenta nos dias de hoje é transformar uma época de destruição em uma época de construção. Para isso, é necessário que haja confronto, não por meio da violência, mas por meio do diálogo e da condenação do barbarismo, nas ruas, nas universidades e em todos os espaços da esfera pública.

Portanto, mesmo que pareça distante, é crucial neste momento uma mudança no pensamento que possibilite a transição da cultura da violência para a cultura de paz.

Por Carlos Eduardo Bertin
Jornalista e Publicitário formado pela UniFai, Mestre em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo, luceliense, budista e esquerdista. Escreve sobre comunicação, cultura, sociedade e religião.

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