Falar sobre suicídio é um assunto perturbador para a maioria das pessoas. E quando o protagonista é um adolescente, a história nos choca. Até porque quando pensamos em adolescência, a despeito da montanha russa de hormônios e mudanças de humor, sempre a associamos com alegria e diversão. Claro que estas características estão presentes. Porém, é preciso prestar atenção nos bastidores destes comportamentos, se os mesmos não estão mascarando algum processo depressivo ou um quadro mais grave.
A maioria dos casos de suicídio é atribuída a algum transtorno psíquico envolvido como transtornos afetivos, depressão recorrente, uso abusivo de álcool ou outros estimulantes. No entanto, há uma característica que nos coloca em alerta, pois quem convive com adolescentes sabe o quanto eles são impulsivos e, por agirem muitas vezes sem pensar, este comportamento pode ser muito perigoso quando o assunto é suicídio.
Assim, é possível observar a tentativa de suicídio após discussões, sejam familiares ou afetivas, quando no fundo a intenção era apenas chamar a atenção ou até mesmo despertar sentimento de culpa em quem provocou nele aquele sentimento de frustração. É uma forma de vingança, mas com consequências extremas.
O assunto é preocupante até porque frustrações, discussões e perdas são partes da vida de qualquer pessoa. Só que na adolescência isto se torna mais penoso pela desestabilização psíquica marcada por este período. A pressão familiar e social para a escolha da profissão, a competição do mercado, a não aceitação da própria sexualidade, sentir que não há um lugar assegurado em seu grupo de amigos, o bullying, medos intensos, são alguns dos fatores de risco que podem colaborar para atos de extrema violência à própria vida.
Por isso, ao contrário do que possa parecer, é importante conversar sobre o assunto. Propiciar condições para que o adolescente fale sobre suicídio não significa que irá estimula-lo, mas sim uma maneira de fazê-lo enxergar que há formas saudáveis de reagir às pressões do mundo. A ideação suicida tem um componente ambivalente, pois há no individuo uma parte dele que busca ajuda já que, no fundo, não é a morte que ele procura. O suicida tem um desejo de ser cuidado. Frases comuns ditas pelos adultos do tipo “quem quer se matar não fica ameaçando” é uma maneira de negar a situação e a própria responsabilidade em possível ato.
É preciso que pais e responsáveis fiquem alertas ao comportamento destes adolescentes no sentido de detectar os sinais autodestrutivos que podem levar ao suicídio. Demonstrar interesse pelo seu mundo e, principalmente, de compreendê-lo, é uma forma de afeto. A escuta, muitas vezes, é aquilo que separa de uma tragédia. É preciso saber acolher.
Créditos: Joselene Alvim- psicóloga/Neuropsicóloga
G1 Presidente Prudente