Intercâmbio pedagógico entre estudantes brasileiros e moçambicanos religa nossa história com o colonizador lusitano

À esquerda: 7º ano da EM Antônio Henrique Filho (Brasil); à direita: 7ª classe da Escola Secundária Josina Machel (Moçambique)
Sob olhares curiosos de dezenas de adolescentes e com as dificuldades inerentes a alguns inevitáveis percalços tecnológicos, aconteceu o primeiro encontro virtual entre uma turma da Escola Municipal Antônio Henrique Filho, de Brasilândia/MS, e de uma escola moçambicana. Aqui, participaram os professores Elias Azevedo e Adriano Gerstenberger. No outro polo estavam os professores João Eugenio Mandlhate e Rosa Sozinha Chambal, da Escola Secundária Josina Machel, localizada na Vila da Praia de Bilene, distrito de Bilene, Província de Gaza, Moçambique.
O primeiro encontro destacou as boas vindas, quando os estudantes falaram sobre os seus hábitos de lazer, seus esportes preferidos, a caracterização da escola, entre outras amenidades. O limite das novas tecnologias da informação e da comunicação é a criatividade. Presente em várias partes do mundo, seu uso permite aproximar pessoas em tempo real, ressignificando conceitos como distância geográfica e fronteira, por exemplo.
Tendo como referência o horário de Brasília e com seis horas de diferença entre as 2 escolas participantes, o fuso horário foi um dos dificultadores para o acerto das agendas. Nas palavras do professor Mandlhate, outro desafio teve que ser transposto: “nós, cá em Moçambique, na nossa escola, não dispomos de data show, câmara e muito menos internet. Para a realização do encontro foi necessário usar recursos pessoais”.
Particularidades no sotaque e na construção de algumas frases revelaram a história que temos em comum: a colonização portuguesa. A chegada dos lusitanos na costa oriental do continente africano data de 1498, pouco antes de aportarem na costa oriental da América do Sul. Sabemos da intensa movimentação intercontinental realizada pelos portugueses, sob influência da Inglaterra, sendo que o tráfico de africanos constituía importante atividade comercial no suprimento de trabalhadores nas atividades agrárias da colônia brasileira. A presença moçambicana no Brasil data do século XVIII, na condição de escravizados, principalmente no Recife, Rio de Janeiro e São Paulo.
Entre as brincadeiras e o lazer dos estudantes moçambicanos, eles gostam de brincar de bola e polícia/ladrão. Assistem novelas brasileiras e, com elas, aprendem muitas coisas sobre o nosso país. Apreciam o futebol brasileiro e são fãs do jogador Neymar. Chamou a atenção dos estudantes brasileiros o uniforme escolar moçambicano, as carteiras de madeira, a sala do diretor é chamada de gabinete e não contam com um programa de merenda escolar; os estudantes levam seus lanches de casa.
O projeto prevê três encontros virtuais, com temáticas mais abrangentes, sendo que o segundo aconteceu em 3 de outubro. A iniciativa partiu do professor Elias, quando conheceu o doutorando moçambicano Lúcio Paulo Ismael Muchanga, na UFMS/Três Lagoas. Fui convidada para participar do planejamento e cá estou acompanhando essa agradável aventura geográfica e didático-pedagógica, que têm como objetivo central promover intercâmbio socio-pedagógico, por meio de canais informacionais, entre estudantes brasileiros e moçambicanos, no segundo semestre de 2023, com ênfase na disciplina de Geografia.
Poesia de Verónica Nguenha, estudante moçambicana, cuja obra foi lida durante o encontro virtual.
Hadaeio
Ajude-me, alguém vá a
minha casa para
enplorar para que não
cortem as minhas asas,
tenho direito de
sonhar e voar mergulhar nos oceanos como todos
Quem é que não quer
ser criança, digam-me
quem é que não quer
ser criança pós és
tu criança quem vai
mudar o mundo, vás
crescer há sim vás
crescer vás trazer ao
mundo novos seres
que vão fazer
Moçambique
desenvolver
Prof.ª dr.ª Izabel Castanha Gil
História/FAI