7 de dezembro de 2023

Grave Questão Social: Um Olhar Movido pelo Abandono

Grave Questão Social: Um Olhar Movido pelo Abandono

Ele descia a avenida presidente Vargas rumo a escadinha,

Tinha as roupas, rasgadas, cerzidas, tudo imundo; em trapos, pés descalços.

As oito horas da manhã, essa avenida tão importante da cidade de Belém do Pará,

se torna passarela dos que dormem ao relento,

dos drogados e abandonados pela família e pela sociedade.

Calculei pela fisionomia e considerando a desnutrição,

devia ter uns dezesseis anos de sofrimento.

Os ônibus param a cada momento e descem dezenas de pessoas

Rumo a mais um dia de trabalho

Rostos sérios, tristes, distantes ou alegres.

As jovens que conversam animadas;

Os que param pra tomar café na Manoel Barata;

Tem gente vendendo tapioca e cuscuz de milho,

Todos têm pressa, tem horário para chegar ao seu destino

Ninguém presta atenção em ninguém, todos seguem seu cainho,

Mas há uma multidão invisível que caminha entre nós

Que tem fome de comida e sede de afeto ou pelo menos um olhar de atenção.

Eles existem! Estão lá!

Entrei na Delicidade para tomar café da manhã e quando ia saindo

Lá estava aquele menino, sentado na borda do canteiro, na frente da padaria,

O segurança olhava atento, para evitar que entrasse para incomodar os clientes.

Vi quele olhar…

Não era só de fome, era de desamparo, solidão,

Era de tristeza pela rejeição.

Não saí. Voltei e comprei um lanche para ele; o que ele comeu avidamente.

Olhou para mim e disse “obrigada, dona”

E então percebi que era apenas um momento. E os outros dias?

E as outras manhãs de fome? E a falta de uma mãe de quem um dia ele nasceu e

Esteve no colo e talvez brincou e sorriu?

Fiquei ali olhando, enquanto ele sumia no meio da multidão apressada.

Uma reflexão passou pela minha mente:

As crianças de minha família, seguras, em um lar,

Com carinho e afago,

Com alimento e roupas limpas.

Deveria ser igual para todas as crianças do mundo.

 

Nunca esqueci aquele olhar, e sempre choro ao lembrar, assim como choro enquanto

Escrevo essas linhas.

Atravessei a rua e fui para o escritório tão abatida como se tivesse perdido alguém da família!

 

Solange Lisboa

Escritora/poeta

@solnlisboa

[email protected]

Compartilhe esta notícia