22 de janeiro de 2024

Eles estavam aqui. São donos da terra, não imigrantes ou refugiados!

Eles estavam aqui. São donos da terra, não imigrantes ou refugiados!

Deixo registrada aqui, minhas palavras, hoje, não como escritora, não como poeta, mas como brasileira, paraense, belenense, filha da Amazônia, descendente, como todo brasileiro, de povos indígenas, pretos, portugueses, espanhóis, italianos e alemães. Em relação aos povos asiáticos, podemos destacar japoneses, sírios e libaneses.

Então aqui, somos um povo miscigenado, que muitas vezes, esquecemos nossas origens e menosprezamos nossos ancestrais.

Os nossos indígenas habitavam o Brasil; estavam aqui quando chegaram as caravelas de Cabral e hoje, acertadamente, tem sido discutido o termo “Descobrimento”, posto que esse termo deve ser usado para o lugar aonde não há habitantes, o que não é nosso caso.

Quando da chegada dos portugueses ao Brasil com a expedição de Cabral, composta por 13 embarcações e cerca de 1200 homens, O primeiro ponto avistado pelos portugueses foi a região do Monte Pascoal, na Bahia, no dia 22 de abril de 1500, o litoral baiano era ocupado pelos índios Tupinambás e Tupiniquins, enquanto no interior viviam os Aimorés, ou seja, ninguém precisa provar nada, a história nos conta que eles habitavam o Brasil e que sua vida, seus costumes e cultura, desde o início foram ameaçados e alterados pela atuação dos homens brancos que aqui chegaram.

“O relato de Pero Vaz de Caminha sobre eles, afirmou que “eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse o corpo. Traziam nas mãos arcos e flechas”.

Essa primeira expedição que marcou os contatos iniciais entre portugueses e nativos foi comandada por Nicolau Coelho. Ele e outros homens foram enviados para as margens da praia, em um bote, para estabelecer uma relação com os indígenas, e esses contatos, naturalmente, foram pacíficos.

 

Em uma outra passagem sobre os nativos, Pero Vaz de Caminha afirma que:

“A feição deles é parda, algo avermelhada; de bons rostos e bons narizes. Em geral são bem-feitos.  Ambos traziam o lábio de baixo furado e metido nele um osso branco e realmente osso, do comprimento de uma mão travessa, e da grossura de um fuso de algodão, agudo na ponta como um furador. Metem-nos pela parte de dentro do lábio, e a parte que fica entre o lábio e os dentes é feita à roque de xadrez, ali encaixado de maneira a não prejudicar o falar, o comer e o beber.”

“A Carta faz um relato muito circunstanciado dos costumes dos habitantes da terra, o seu comportamento pacífico, mesmo dócil, suas casas, alimentação, vestuário, vários utensílios como arcos, setas, machados, aves, a cor da terra, os densos arvoredos, a inexistência de animais domésticos.

É também de realçar como, Caminha se refere aos índios: “a três séculos de Rousseau, vemos o olhar maravilhado perante o seu bom primitivismo, a sua ingenuidade, a sua inocência. É como que a antecipação do mito do bom selvagem, que Rousseau teorizou e que originou obras como Átala e René, de Chateaubriand, ou o Guarani, do brasileiro Alencar”.

Com todos os dados históricos fornecidos por livros, almanaques e cartas da época, incluindo a famosa carta de Pero Vaz de Caminha ao Rei D. Manoel.( Atualmente, a carta está no Arquivo da Torre do Tombo, a qual é o Arquivo Nacional de Portugal.), ainda assim, vergonhosamente, nossos povos originários, tem sido tratados como se refugiados fossem, e que precisassem comprovar datas de sua existência (Marco Temporal- PL 490), o nefasto desejo de tomar pela força da lei, as terras que a eles pertencem.

Não bastasse todas as injustiças e atrocidades cometidas contra esse povo, ao longo desses 523 anos, por meio de invasões de suas terras, queimada de suas lavouras, contaminação de sua água, exploração de sua terra mediante garimpos de toda sorte de mercenários, que negociam com sua inocência e ingenuidade e miseravelmente, estupram e matam.

Então diante de tudo isso, eu como filha dessas terras, descendente de miscigenação, não posso me calar e simplesmente fechar os olhos diante de situações que ninguém aguenta mais, como esse Tal Marco Temporal, que com certeza apoiado por gente ambiciosa, nociva e funesta e que enriqueceu nos garimpos à custa de vidas de tantos inocentes.

Não posso aqui, me furtar a lembrança de Dom Phillips e Bruno Pereira que eram profissionais reconhecidos em suas áreas e compartilhavam a paixão pela Amazônia e pela preservação da natureza e dos povos originários da região.

Bruno Pereira orientava moradores do Vale do Javari a denunciar irregularidades cometidas em reserva indígena e o jornalista estrangeiro acompanhava o trabalho para registrar em livro que pretendia escrever.

E por causa desse amor à Amazônia e aos povos primitivos, e de suas atuações para protegê-los, foram cruelmente assassinados, esquartejados e tiveram seus restos mortais queimados.

Até quando vamos nos calar diante do sofrimento dessa “nossa gente” que aqui vou representar com o nome dos Yanomamis, que tem sido dizimados pela maldade e ambição? Suas crianças desnutridas são atingidas por toda sorte de doenças e um dano psicológico irreversível é causado em suas mentes, posto que, acuados em seu próprio habitat natural, indefesos e vulneráveis.

Solange Lisboa

@solnlisboa

Solange [email protected]

Referências:

https://brasilescola.uol.com.br/historiab/descobrimentobrasil.htm

https://www.terra.com.br/noticias/quem-eram-dom-phillips-e-bruno-pereira-assassinados-na-amazonia,217edd13e1d7e8ad385d5fd93330ceb2gxodooav.html?utm_source=clipboard.

https://www.terra.com.br/noticias/quem-eram-dom-phillips-e-bruno-pereira-assassinados-na-

https://www.survivalbrasil.org/povos/yanomami

 

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