— Pronto!
— Bom dia de novo, meu amor!
Escutar a voz de Camila sempre me traz um sorriso aos lábios.
— Bom dia Camz…
— Já chegou ao trabalho? Pode falar?
— Estou chegando, mas pode dizer.
— Eu só liguei pra saber como foi à conversa com o seu pai.
— Você já deve imaginar, mas, deu tudo certo.
— Menos mal…
— Pois é. E você? Já conversou por aí?
— Não, ainda não, meu pai já tinha saído para trabalhar, então eu vou esperar e a noite conto para eles.
— Melhor mesmo. Você não devia estar na aula?
— Já vou entrar.
— Ok.
— Você me liga mais tarde se tiver um tempinho?
— Claro que sim.
— Eu vou esperar então. Se cuide Lo, por favor! Agora você é minha noiva, não quero ficar viúva antes do tempo! — Brinca e eu dou risada. Assim como meu pai, Camila não aceita meu trabalho.
— Eu sei me cuidar, não se preocupe Camz.
— Queria só ver se fosse eu a me arriscar todos os dias, você não teria um único momento de sossego.
— Está certo. Mas, eu sei me virar ok?
— Ok amor.
— Preciso desligar agora. A gente se fala mais tarde.
— Certo. Te amo, noiva!
— Te amo também. Beijo!
Encerro a ligação e desço do carro com minha mochila no ombro, o vento gelado castigando minhas bochechas.
Mal entro no dormitório e Normani, minha melhor amiga e parceira de equipe me enche de perguntas sobre o pedido de casamento.
— Foi normal Mani, Camila e eu não gostamos de nada espalhafatoso.
— Não interessa! Deve ter sido romântico!
— Bom… Nós estávamos na cama…
— Lauren!
Dou risada e sinto seus braços fortes me espremendo num abraço.
— Eu estou muito feliz por vocês! Sério!
— Eu sei Mani.
Não tivemos tempo para mais nada porque um chamado para resgate numa praia próxima surgiu de repente.
Em menos de cinco minutos Normani e eu estávamos paramentadas e caminhando para o exterior da base levando os equipamentos para o helicóptero que o piloto já preparava; o vento de janeiro castigando nossos corpos mesmo sob camadas de roupas térmicas que a temperatura da água exigia.
Instantes depois o copiloto aparece e decolamos rumo ao mar gelado e temperamental de Bering, no Alaska.
— Um jovem preso num kaiak próximos às rochas é o caso, ele diz que estava com um amigo, mas que se perderam quando a maré subiu. — A voz do piloto explica nos fones — O vento está ainda mais forte na parte sul, onde o rapaz afirma ter visto o amigo pela última vez, vocês vão precisar de cuidado redobrado, provável hipotermia para os dois.
— Ok!
— Precisa ser muito estúpido para entrar nessa água! — Normani comenta enquanto fazemos o check list e não muito depois chegamos ao ponto de resgate aguardando o posicionamento da aeronave.
— Sobrevivente avistado! — Avisa o piloto enquanto seu companheiro nos ajudava a preparar a gaiola de resgate que seria lançada.
— Boa sorte para nós, amiga! — Normani deseja quando eu me preparava para saltar.
— Permissão para saltar, senhor! —Peço sentindo a mais que bem vinda sensação de familiaridade me tomando.
— Positivo, mergulhadora um!
E pronto! Em instantes meu corpo mergulha na água congelante e agitada e eu me sinto em casa!
Faço um sinal de positivo para o copiloto que me observava e instantes depois Normani se atira na água repetindo o mesmo sinal antes de juntas começarmos a nadar em direção às rochas.
Com alguma dificuldade eu alcanço as pedras e forçando meus braços num impulso consigo subir antes que uma onda forte pudesse me jogar de volta às águas. Olho ao redor procurando por Normani que ainda lutava contra o mar furiosamente agitado.
Com passos cuidadosos me aproximo do garoto que não parecia ter mais que quinze ou dezesseis anos e diferente da informação que nos foi dada estava sentado numa rocha e não preso no pequeno kaik que sequer estava à vista.
— Eu sou mergulhadora da guarda costeira e estou aqui para te ajudar! — Falo por cima do vento e do barulho das ondas quebrando nas pedras. — Qual o seu nome, garoto?
— Josh! — Responde com voz trêmula.
Coloco-me a examina-lo rapidamente enquanto Normani chegava.
— Você está ferido?
— Não senhora!
A essa altura já o preparávamos para o resgate.
— Meu amigo! Meu amigo ainda está lá! — Aponta para uma caverna pequena e de entrada estreita entre as rochas pontiagudas quase cobertas pela água. — Eu o vi ali perto há uns trinta minutos!
Encaro Normani que me olhava preocupada.
— Você termina aqui Mani. Eu vou atrás do garoto.
— Lauren — Segura meu braço — Nós vamos decidir juntas.
Novamente olho para a direção onde Josh apontara.
— Você sabe que sou eu quem deve ir. Você pode ser mais forte Mani, mas, eu sou mais rápida. A água está subindo depressa, daqui a pouco aquela entrada estará submersa; se o menino estiver lá dentro, eu sou a melhor chance dele!
Ela pensa por menos de um minuto e decide que tenho razão.
— Eu volto para te ajudar!
Aceno concordando porque argumentar com ela só serviria para nos fazer perder um tempo que o outro menino poderia não ter. Sem pensar eu mergulho novamente sentindo a força das ondas tentando me empurrar em direção às pedras.
“Só mais um pouco Lauren” eu pensava. “Mais uma braçada!”
De repente uma dor aguda faz meu ombro arder e eu vejo um rasgo em minha manga, a ardência mostrando que eu havia me cortado em qualquer coisa.
“Ótimo” penso ignorando a ardência causada pela água salgada.
Com certa dificuldade eu consegui chegar à bendita caverna que inundava com mais rapidez do que eu havia suposto. Não demora e consigo ver um garoto pálido que me encarava assustado enquanto eu subia na pedra lisa onde ele estava enquanto eu me pegava fazendo novamente minha apresentação habitual enquanto lhe colocava um colete.
— Nós vamos ter que sair daqui pra que nos resgatem.
Ele olha para a entrada por aonde eu vim e seus olhos quase saltam de seu rosto, as ondas ficando mais altas e mais fortes a cada minuto.
— Eu… Eu não… — Voz e corpo trêmulos, pelo frio, mas arrisco dizer também pelo medo — Eu não sei na… Nadar muito… Muito bem.
— Não sabe nada muito bem? — Pergunto para confirmar.
— Não senhora.
— Certo. Não tem problema, porque eu sei. Você precisa confiar em mim…?
— Ângelo.
— Ok Ângelo. Confie em mim e daqui a pouco você estará em casa.
Volto para a água e espero impaciente que ele se junte a mim, o nível da água mais alta.
— Eu sei que você está com medo Ângelo, mas, eu não estou! Vamos lá! Confie em mim!
Ele hesita mais um pouco e por fim pula na água ao que eu o seguro de imediato pelo tronco, de costas, meu braço esquerdo por debaixo dos seus.
— Eu vou morrer! — Ele grita quando a primeira onda nos atinge empurrando nossas cabeças para debaixo da água salgada — Eu vou morrer! — Se debatendo desesperado enquanto eu gritava para que ele se acalmasse.
Com muito custo consigo nadar para fora da caverna, mas lutar contra a força da água e do menino desesperado estava me exaurindo por completo; a necessidade de levar-nos em segurança para casa me impulsionando a ir mais depressa.
— Eu vou morrer moça! — Puxando as mangas do meu macacão e arrancando minha luva arranhando minha pele.
Tento acalma-lo mais uma vez, inutilmente.
— Eu não quero morrer! — Grita e tenta se soltar cravando suas unhas em meu antebraço.
Nesse momento meu cotovelo acerta seu nariz deixando-o um tanto desnorteado enquanto o sangue escorria por sua boca.
Menos de dez minutos depois o helicóptero nos puxava de volta.
— Eu estava me preparando para descer outra vez! — Normani avisa — Estava preparando o equipamento.
— Ainda bem que não será necessário — Respondo examinando o rosto ensanguentado do garoto — Desculpe aí menino, acho que quebrei o seu nariz.
— Tudo bem — Diz com a voz meio embolada apertando um cobertor grosso em volta dos ombros.
— Entrou em desespero? — Mani pergunta sorrindo.
— Total.
Conferimos os sinais vitais enquanto voltávamos para a base nos certificando de que os jovens estavam, de fato, bem.
- Continua na próxima postagem…
Fonte: Minerva Scarlet