Rádio Life FM

Cegos, surdos e mudos

Carlos Eduardo Bertin - Foto - Arquivo pessoal

“Nunca o nosso mundo teve ao seu dispor tanta comunicação. E nunca foi tão dramática a nossa solidão. Nunca houve tanta estrada. E nunca nos visitamos tão pouco” (Mia Couto).

A internet, os aparelhos celulares e as redes sociais facilitaram a comunicação entre os seres humanos. Hoje, em qualquer lugar e a qualquer momento, uma mensagem pode ser enviada pelo Whatsapp para informar algo importante, o Facebook facilita a aproximação e reencontro entre as pessoas e o Instragram proporciona o compartilhamento de fotos de momentos importantes.

Os aparelhos celulares com boas câmeras permitem a gravação de vídeos que mostram as injustiças sociais e outros acontecimentos cotidianos. Por isso, novos grupos de comunicação emergem com o intuito de apresentar narrativas que divergem das mídias hegemônicas ao mesmo tempo em que as mídias hegemônicas se apropriam desses recursos para se aproximar do público e difundir notícias.

O ser humano tem ao seu dispor todos esses instrumentos que facilitam a comunicação e a aproximação. Apesar disso, nunca esteve tão isolado, embora pense que seja diferente.

Certa vez, um rapaz publicou um texto em seu Facebook relatando sua luta contra a depressão. Na ocasião, recebeu dezenas de likes e comentários. Muitas pessoas que interagiram com ele faziam parte do seu círculo de amigos e manifestaram apoio e empatia na publicação. Dias depois, encontrou-se com algumas dessas pessoas e tentou manter algum diálogo. Porém, as mesmas pessoas preocupavam-se mais com as mensagens de Whatsapp do que com suas palavras. Percebeu, ali, que as palavras têm mais efeitos nas redes do que na vida real.

Esse episódio revela a atual sociedade contemporânea. As pessoas leem e escrevem textos no Facebook, ouvem áudios de Whatsapp, observam e curtem fotos no Instagram e seguem a lógica da troca de informações permitida pelas redes. No entanto, estão cegas, surdas e mudas para as relações humanas.

Por Carlos Eduardo Bertin

*Carlos Eduardo Bertin (31) é jornalista e publicitário formado pela UniFai e mestre em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Trabalhou como responsável pelo setor de Informação, Educação e Comunicação (IEC) do Departamento de Controle de Vetores da Prefeitura de Lucélia, repórter do Jornal Impacto e editor do Jornal Brasileiro da Ciência da Comunicação (JBCC) da Cátedra UNESCO/ UMESP de Comunicação para o Desenvolvimento Social. Escreve sobre cultura, política, religião e comunicação. É luceliense, esquerdista e torce para o São Paulo Futebol Clube. Atualmente, reside em São Bernardo do Campo.

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