Rádio Life FM

Baixaram as águas!

Depois baixaram as águas, a umidade permaneceu. São muitos dias de desabrigo, de insegura esperança. Muitos superam com seus recursos próprios, pelo menos a parte material, mas as perdas que não se resgata, as vidas perdidas, as palavras não ditas, o adeus nunca vivido, os pequenos recortes da vida, as relíquias da casa de infância, o pequeno cão ou o gato, que não estarão lá. Esse desastre causou uma enorme distância, entre lembranças e constatação.

O que realmente se perde nessas tragédias e que nunca será relatado nas revistas ou jornais, é abstrato.

O fato é cru, a notícia seca, mas os sentimentos transcendem as telas, ou as páginas. Eles se estendem pelas vidas que sobrevivem e precisam levantar, juntar o que restou, limpar a lama da dor e recomeçar.

O ser humano se inventa e reinventa, se transforma, se adapta a perdas, se encouraça pelo sofrimento e luta suas batalhas, mas no recôndito abrigo nas noites, há um soluço incontido de quem precisa ser forte, ou fazer-se de inabalável, para testemunhar à sua prole. Para dizer “Estou aqui e vou protegê-los”.

Assistimos de muito longe, nos consternamos, enviamos ajuda material, mas nunca saberemos a expressão do olhar dos que perderam não somente o teto, mas ficaram sem chão, não somente os móveis, mas os livros, as cartas antigas, os bilhetinhos corriqueiros, aqueles deixados na porta da geladeira para o esposo, a esposa, para os filhos e filhas, e os detalhes que compõem uma vida e que não há como mensurar.

O ser humano vence com sua fé, com sua garra, e mesmo que em algum momento chegue a duvidar, continua caminhando e o dia vai clarear e o sol nascer de novo e vamos continuar recebendo uma página em branco, para reescrever nossa história.

 

Solange Lisboa

05/06/2024

@sollisboapoeta

Solangeserrao3@gmail.com

 

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