11 de fevereiro de 2021

A construção da vida se faz entre perdas e ganhos

A construção da vida se faz entre perdas e ganhos

Temos uma ideia comum de que a vida passa pela cruz. A religião cristã nos diz que a ressurreição é precedida pela cruz. A vida é sempre vitoriosa, mas não acontece sem passar pelo sofrimento, pela morte. Essa ideia, por vezes, é complementada com a compreensão de que Deus nos dá cruzes. Ainda se ouve por aí esse refrão: “Deus não te dá uma cruz maior do que você possa carregar”. Essa ideia aparentemente piedosa é perigosa, ou melhor, mentirosa. Deus nunca deu cruzes para ninguém. Ele não dá cruzes. O que Deus mais faz é nos ajudar a sustentar a vida. Está conosco nos ajudando a carregar as cruzes para vencermos o sofrimento. Ele sustenta a realidade e a vida com seu amor. Nunca dá e nunca deu cruzes a ninguém.
A vida, porém, passa pela cruz, pela dor e sofrimento. Não há quem não sofra, quem não experimente a força do limite. Sofremos porque somos limitados e finitos. Somente a plenitude pode nos livrar do sofrimento. E não há plenitude enquanto estamos vivos nesse mundo. Pleno significa completo, sem limite, sem finitude, sem carências, sem desejos, feliz por ser o que é, sem necessidade de nada além daquilo que tem, pleno na realidade em que está. Só a plenitude será uma realidade sem dor.
Ocorre que o ser humano é finito, limitado, carente, sempre desejando algo mais, quer a plenitude. Porque é limitado, passar pela dor e sofrimento se torna uma realidade inevitável. Podemos aprender a lidar com os sofrimentos. Quem se rebela ou revolta com o sofrimento, sofre mais. Para lidar bem com o sofrimento, a primeira coisa é perceber que a vida é composta de luz e de cruz, de alegrias e de dor, de perdas e ganhos. Não é correto pensar que é possível viver sem sofrimentos. Não posso anestesiar a dor com analgésicos o tempo todo. A dor existencial não se acomoda com remédios. Preciso encarar a dor, carregá-la e carregar significa suportar o peso da dor. Não é possível se livrar da dor da vida, segundo a nossa vontade. Pela nossa vontade não gostaríamos de sofrer. Ninguém quer o sofrimento. Contudo, quando ele acontece em nossa vida, precisamos saber que é um peso que precisamos carregar, suportar. Esse peso também pode ser compartilhado com quem amamos e com Deus a quem podemos confiar. Porém, fundamentalmente a dor é algo meu, intransferível, que posso aprender a lidar de um jeito inteligente para que me seja menos pesado e suportável. Quem não aprende a lidar pode ser esmagado pelo peso do sofrimento e não conseguindo carregar essa dor pode até querer desistir da vida. Nessa hora a pessoa pode dizer que a cruz lhe é pesada demais, insuportável.
Aprender a lidar, suportar, carregar a dor é passar da cruz à luz. Viver a vida de forma consciente e de maneira inteligente significa assumir esse processo o tempo todo. Com mais ou menos intensidade todos passamos pela dor e também experimentamos a alegria da superação. Essa é a construção da vida que se faz na aprendizagem constante entre as perdas e ganhos, dores e alegrias, cruz e luz. Despertemos sempre mais para o amor!

 

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