A batalha contra os moinhos de vento – Carlos Eduardo Bertin – Coluna Opinião
Coluna Opinião - Carlos Eduardo Bertin - Ilustração
A batalha contra os moinhos de vento
“Quixotesco é quem luta contra os moinhos de vento, sem perceber que não pode vencê-los” (Gustavo Bernardo).
O encontro com a lucidez é o encontro com a triste realidade e, consequentemente, com a morte. É o momento mais triste de uma obra, em que as lágrimas caem pelo rosto e nos mostram a nossa insignificância diante de um mundo em que os moinhos de vento não são gigantes imaginários, mas autoridades que tiram os nossos direitos, os nossos sonhos e as nossas esperanças.
O riso sarcástico dos personagens que zombam do cavaleiro da triste figura é a gargalhada da violência, do ódio e da desumanidade daqueles que observam o nosso sofrimento, a nossa luta e sabem que todas as nossas ações não surtirão efeito algum.
Os livros queimados do início da história indicam os cortes nas universidades, na cultura e na pesquisa. O conhecimento é perigoso e uma poderosa arma contra aqueles que pensam somente em armar a população. Por isso, os papéis queimados nos dizem apenas sobre um tempo em que acreditamos que era possível sonhar com os bancos das universidades e com a busca pelo conhecimento.
O nosso riso é o riso amargo da dor, da solidão e da lembrança de um tempo em que dizíamos: “ninguém solta a mão de ninguém”. No entanto, nossas mãos se escaparam e procuramos um novo ombro para apoiar as nossas esperanças.
Esses ombros estão trancados em uma cela, enquanto nós estamos presos nas nossas postagens, nas nossas mensagens e em ambientes virtuais que mais dizem sobre a nossa incapacidade de colocar em prática aquilo que pregamos em textões ou em 140 caracteres.
Quixote morreu ao voltar à realidade. Já nós nos deparamos com ela todos os dias. Nisso, ou morremos por dentro ou travamos batalhas contra os moinhos de vento.
Por Carlos Eduardo Bertin*
*Jornalista, Publicitário e Mestre em Comunicação Social. Luceliense e um eterno quixotesco.
