As crises sempre trazem algo nas nossas vidas
Quando nós vivemos uma crise, nós somos transpassados. A crise é sempre um tornar-se transpassado. Nossa vida não corre sem dificuldades, alguma coisa de dentro ou de fora vem intrometer-se. O que nos transpassa nos abre, mas, também, pode nos quebrar.
A cruz não é apenas uma imagem da crise, mas também do fracasso. Fracasso e crise não são a mesma coisa. A crise, no início, é um processo doloroso; no final surge nova vida. Já o fracasso significa que algo está quebrado. Mas, assim mesmo, crise e fracasso têm algo em comum entre si. Pelo fracasso, eu posso ser aberto para a nova vida, para o meu verdadeiro eu, o fracasso pode abrir-me de fato e de forma mais radical para Deus. Na crise acontece, em última análise, o mesmo. É tirado do meu interior o que não corresponde a minha verdadeira natureza. Todo o secundário, tudo o que tenho, o que possuo, o meu êxito, minha fama, meu mérito… serão eliminados, serão quebrados para que apareça o essencial, e isso é maravilhoso!
Na crise nós podemos perder o secundário, mas o essencial nós nunca perdemos. Em cada crise, precisa morrer alguma coisa em nós. Morrem as ilusões que construímos em torno de nossa vida, em torno de projetos, em torno de nós mesmos, a ilusão de que dominamos nossa vida, a ilusão que, por meio de uma vida adequada, tiramos todos os empecilhos do caminho, a ilusão de que nada nos pode acontecer. Na crise sempre morre um pedaço do ego.
Muitos místicos, pessoas espiritualizadas, acham que devemos aniquilar nosso ego para que Deus encontre espaço em nós; mas é perigoso alguém aniquilar seu ego, a própria vida tira de nós as ilusões de nosso ego, ela nos abre através das crises e dos fracassos. A crise nos abre para Deus, mas também para o nosso verdadeiro “si mesmo”, para imagem única e genuína que Deus fez para si, de cada um de nós, porque Deus fez e tem uma imagem de mim e uma imagem de você. Na crise nós podemos descobrir essa imagem que Deus fez de nós e nos agarrarmos só a ela, sem criar ilusões demais. Pense nisso.
Padre Ezequiel Dal Pozzo