30 de dezembro de 2022

A minha chance humilde de mostrar respeito no encontro com o Rei maior.

A minha chance humilde de mostrar respeito no encontro com o Rei maior.

Pelé, o maior de todos-

 

Quando eu tinha 20 anos, em 1976, fiz, com meu amigo Dan Caraí, um mochilão pela Europa. Uma fria tarde, no inverno do sul da Itália, tomando um café pra esquentar, quando falei que era do Brasil, o barista me falou. Ah o país do rei negro. O Rei Pelé. O maior de todos…   Não contestei. Veio a sensação de orgulho, de pertencimento, como um cidadão oriundo de uma nobre monarquia latino-americana.

Sempre pensei algo meio surreal e literário sobre Pelé que ele é o mais imortal dentre todos os mortais. Mas isso é retórica. O que fazer, porém, quando se quer falar algo de alguém e tudo sobre ele já foi dito, irradiado, fotografado, filmado e comentado. Fica uma estranha sensação de dejavu e impotência porque o que se sente, pelo tamanho do homenageado, é algo do tipo: é pouco, é pequeno, não alcança a grandiosidade dele.

 

Há quem diga que Pelé foi o mais dotado dos seres humanos para exercer uma atividade. Em outras palavras, Beethoven foi um músico nota 9,99; Leonardo da Vinci foi um pintor 9,99; Einstein foi um cientista 9,99; já Pelé foi um futebolista nota 10. Essa ideia é defendida pelo jornalista Milton Neves, sempre gongórico quando fala do Santos e de Pelé. Já Armando Nogueira dizia que “a parceria de Pelé com a bola era tão perfeita que se ele não tivesse nascido gente teria nascido bola”.

 

A história.

O menino mineiro que se tornou bauruense depois santista e, por fim internacional, fez o time praiano ser, simplesmente, o que mais fez gols dentre todos, mais de 12 mil, inúmeros deles obra direta ou assistencial do Rei. Fez o brasileiro esquecer de seus complexos, orgulhar-se de suas habilidades, tornar-se um campeão afinal.

Lembro-me de, levado pelo meu pai, nas noites de quarta ou tardes de sábado/ domingo no Pacaembu ver o time de branco fazer a reverência típica de artistas de teatro ao entrar no gramado. Elegantes e clássicos os santistas, liderados pelo Rei, destruía impiedosamente os adversários, fossem alvinegros, esmeraldinos ou tricolores.

Pelé colecionou recordes, mas o mais importante penso que jamais será igualado. É o único tricampeão de futebol do mundo pela seleção e bicampeão mundial de clubes.

 

Na verdade, podemos confessar que muitos de nós conhecemos e passamos a admirar o futebol por ele.

 

 

Pelé nasceu em 1940 em Três Corações, no ano em que a luz chegou à cidade. Assim foi batizado Edison, o que inventou a eletricidade. Dividia seu tempo entre o futebol de meia e lustrar sapatos na praça do coreto para ajudar Dondinho, seu pai e avante do esquadrão local, nas despesas modestas da casa de Dona Celeste.
A família Arantes do Nascimento mudou-se para Bauru; os homens dela, Dondinho e Pelé sempre no futebol. Até que um técnico e olheiro Sr.Valdemar de Brito viu o talento assombroso do menino e o levou para a Vila Sagrada, a Belmiro , em Santos.

O resto é a história mais contada sobre um atleta em todos os cantos do planeta. O Rei que parou uma guerra; O Rei que levou o futebol para o país mais poderoso do mundo; O maior artilheiro da história do futebol. O maior campeão de copas.

 

Minha mensagem

A minha humilde mensagem ao Rei é de profundo respeito. E ilustro a mensagem com uma passagem que tive a oportunidade de lembrar a ele, quando me recebeu em sua casa três anos atrás. Uma história que não canso de contar. E tenho gravado no meu blog. Era 1962, copa no Chile, jogo da chave Brasil x Tchecoslováquia. Pelé acabara de sofrer uma distensão muscular que o afastaria do restante do torneio, mas, como não havia substituição, permanecia em campo fazendo número na ponta esquerda. A bola, num átimo irresponsável, insiste em chegar ao Rei e vai caprichosamente parar no seu pé. O capitão tcheco, Josep Masopust vai pra marcação, mas quando percebe a bola com o Rei ferido, põe os dois braços pra trás, aguarda que Pelé toque na bola pra dar continuidade ao seu movimento. Máximo respeito de um capitão de um time vencedor que foi a final naquela Copa.

Diz-se comumente que o Brasil é um país que não cuida de sua memória. Pelo que tenho visto das imagens todas passadas nos últimos dias, Pelé vai mudar até isso.

Se não nos orgulhamos de nossos políticos, de nossa relação com a natureza e, consequentemente de nossa história, se não temos Oscars, Prêmios Nobel, vamos sim valorizar aquele foi Rei do Mundo e era nosso.

É O legado de um verdadeiro herói do povo. Como brasileiros ou cidadãos desportistas do mundo, devemos perpetuar esse legado, reverenciando sua memória para sempre. Esse Rei morto, não está posto… é o Maior de todos.

 

Eduardo Fonseca; jornalista, advogado e apresentador do “A Bola Rola e a História não Para” da Rádio LIFE FM.

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