Come Back To Me – Capítulo 1
— Como você pode ter feito isso Lauren? Sem me consultar ainda por cima?!
— Porque eu deveria ter contado antes? O senhor teria me apoiado por acaso? — Pergunto retoricamente — Pelo contrário, teria me atormentado pra que eu mudasse de ideia.
— Você não podia ter feito isso, onde está com a cabeça? Lauren, você tem vinte e três anos, acabou de se formar, Camila nem isso ainda! Como podem querer se casar?
— Pai, com todo o respeito que eu tenho pelo senhor, eu não preciso da sua opinião e ainda menos da sua permissão. Camila e eu estamos juntas desde o começo da faculdade, a gente se ama casar é só uma consequência.
— Vocês são duas crianças! — Meu pai insistia andando de um lado para o outro. — Eu não posso aceitar isso.
— Como eu disse, não preciso da sua permissão pai. Eu pedi a Camila em casamento e ela aceitou. Pronto. Fim da história.
— Lauren…
— Ainda é cedo para vocês tomarem essa decisão! — Insistia.
— Nós vamos esperar até que ela termine a faculdade, só falta um ano.
— Então porque essa pressa? Vocês podem continuar namorando, não precisam morar juntas.
Suspiro, cansada e prevendo uma longa conversa.
— Pai, não adianta ok? Eu não vou mudar de ideia.
— Então a traz pra cá! — Solta como se tivesse tido a melhor ideia do mundo — Isso, Camila pode ficar aqui com a gente, a casa é grande, filha.
— Pai…
— Apenas por esse ano que falta pra ela terminar os estudos Lauren, eu posso ajuda-las a organizar o casamento durante esse tempo.
— Nós não vamos querer nada grande, pai, só vamos esperar mesmo por questão de comodidade.
— Filha, pense bem… Camila ainda estuda e você tem um trabalho que não paga tão bem, vocês podem economizar ficando aqui.
— O senhor sabe que eu tenho como me manter e a Camila tem o estágio dela.
— E vão gastar com aluguel pra que Lauren?
— Não vamos! Eu tenho a herança da mamãe e o apartamento que ela deixou pra mim.
— Vai mexer na sua herança? — Pergunta irritado. — Você nunca quis nem saber disso!
— É minha não é? Então!
— Lauren…
— Pai, eu não quero discutir com o senhor.
— Você não está raciocinando!
— Por quê? Porque eu decidi que quero sair de casa? Isso aconteceria em algum momento.
— Não precisa ser agora filha. Eu gosto da Camila, converse com ela. Eu mesmo posso fazer isso, sei que ela aceitaria vir morar aqui.
— Talvez ela aceitasse pai, mas, eu não quero.
— Porque não? Essa é a sua casa Lauren!
— Eu cresci pai! Eu quero ter a minha vida! — Buscando paciência para não brigar; eu sabia que não seria fácil para meu pai aceitar isso tudo.
— Eu não entendo Lauren, juro que não entendo! Eu engoli todas as minhas convicções e crenças quando você me contou que se interessava por mulheres, sacrifiquei tudo em que eu acreditava porque você é minha filha, porque não pode retribuir isso agora? Eu só estou te pedindo mais alguns meses! — Começando a soar desesperado.
— Pai — Eu chamo para que ele se sente ao meu lado, mas ele nega — Eu sei disso, eu reconheço tudo o que o senhor fez e faz por mim. Eu não pedi por nada disso, mas reconheço e sou muito grata ao senhor por isso. Mas, está na hora de eu ir viver a minha vida, não posso passar mais vinte anos debaixo das suas asas.
— Isso não está certo, Lauren não está. — Sua voz falhando no meio da frase. — Eu prometi para a sua mãe que cuidaria de você!
— E você fez isso pai! Fez muito bem! Olha só pra mim! — Levanto para abraça-lo — A mamãe com toda a certeza está muito orgulhosa de você! — Beijo sua bochecha e me afasto para encarar seus olhos apertados. — Você me criou bem e agora eu quero poder ter a chance de viver sozinha, porque o senhor me ensinou tudo!
Eu não podia ficar irritada com ele. Não depois disso tudo. Quando minha mãe morreu, vencida pelo câncer, eu tinha pouco mais de oito anos de idade e desde então meu pai dedicou sua vida a cuidar de mim.
— Como eu vou fazer sem você aqui? Essa casa vai ficar tão vazia…
— Nem tanto, Chris ainda vai estar aqui para te dar trabalho. — Tento brincar falando sobre meu irmão mais velho, filho do meu pai com a primeira namorada. — Eu tenho certeza de que ele não tem a menor intenção de se casar tão já.
— Não é a mesma coisa! Seu irmão nunca para em casa! Você é a minha filhinha… — Termina com voz embargada.
Meu pai é um homem grande, forte, para quem vê de fora imagina-lo chorando seria algo impossível, mas, só eu sei o quanto ele é sentimental e dono de um coração mole, especialmente em se tratando de mim.
— E eu vou continuar sendo ok? O fato de eu sair de casa não vai mudar isso.
Segura meu rosto entre as suas mãos e me encara com olhos marejados.
— Eu não vou mesmo conseguir te convencer a ficar aqui não é? — Pergunta triste ao que eu nego com a cabeça. — Quando será a mudança?
— Bom, eu vou ter que dar uma geral no apartamento e Camila e eu vamos escolher a mobília. Quando tudo estiver pronto à gente vai, não deve levar mais de um mês.
Ele inspira profundamente antes de voltar a falar caminhando pela sala novamente.
— E os pais dela? Estão de acordo com isso?
— Eles não sabem na verdade. Camila deve estar conversando com eles agora.
— Hum.
— Pai…
— Eu acho que vocês estão se precipitando, mas quem sou eu, não é mesmo? Se você já tomou a sua decisão…
— Eu não preciso da sua permissão, pai, mas, ter o seu apoio seria muito importante pra mim. A mamãe já não vai estar lá, será que nem com o senhor eu vou poder contar?
— Não diga besteiras menina! É claro que eu vou estar do seu lado. — Dessa vez ele é quem me abraça forte.
— Obrigada pai, isso significa muito pra mim. — Confiro as horas no meu relógio de pulso e percebo estar quase atrasada para o trabalho. — Eu vou arrumar as minhas coisas, meu turno começa daqui a pouco, depois eu te conto como foi o pedido.
— Lauren, você vai continuar insistindo nisso? Se vai se casar não acha que deveria procurar outro trabalho?
Perfeito! Estava demorando! Meu pai nunca escondeu o desagrado quando eu me recusei a estudar odontologia como ele e meu irmão e menos ainda a decepção quando decidi por educação física, mas, o pior mesmo foi quando revelei os meus planos de entrar para a Guarda Costeira como mergulhadora de resgate.
— Não vamos começar, não é Michael?
— Você arrisca sua vida todos os dias Lauren!
— É o que eu gosto de fazer pai, meu lugar é na água!
— Tem razão — Irritado e passando as mãos por seus cabelos perfeitamente penteados — Se eu for por esse caminho nós vamos brigar outra vez.
— Ótimo. Tomei banho na casa da Camila, então vou ajeitar minha mochila e correr para a base. Te amo pai! — Beijo seu rosto me apressando em pegar minhas coisas e pouco depois estou no carro a caminho da USCG BASE KODIAK.
Fonte: Minerva Scarlet