Mercado de flores ‘renasce’ durante pandemia e projeta faturamento 5% maior em 2020
Ibraflor destaca vendas por delivery e em supermercados, que não fecharam na quarentena, além do aumento do consumo com o home office como fatores do bom resultado. Impulsionado por Holambra, estado de São Paulo é quem mais produz.
A pandemia do novo coronavírus mexeu com o mercado de plantas e flores. Se em março, início das medidas restritivas, o cenário era de pessimismo, com projeções de prejuízos e demissões, o setor chega à reta final de 2020 “renascido”, esperando aumento de pelo menos 5% no faturamento em comparação com o ano anterior.
Na avaliação do Instituto Brasileiro de Floricultura (Ibraflor), em Holambra (SP), as vendas por delivery e em supermercados, que não fecharam as portas durante a quarentena, além da mudança de hábito de consumidores que migraram para o home office, ajudaram a impulsionar o setor.
A flexibilização das medidas restritivas, que culminou com a reabertura de cemitérios para visitação em grande parte do país, também já ajudou o setor nas vendas do Dia de Finados. Segundo o Ibraflor, “apenas sobraram flores nas cidades onde os cemitérios permaneceram fechados”.
Tamanho do mercado
Com 8,2 mil produtores, 15 mil hectares de área cultivada e mais de três mil variedades produzidas em todo o Brasil, o mercado de flores é um setor bilionário, responsável por 200 mil empregos em toda a cadeia.
Dados do Ibraflor mostram que o setor movimentou R$ 8,7 bilhões em 2019, com um consumo per capita de R$ 42,00.
E esse mercado tem em São Paulo seu maior expoente. O estado, impulsionado principalmente pela região de Holambra, é o maior produtor e também o que mais consome flores e plantas ornamentais.
‘Plantas verdes’
Um dos setores que mais cresceu durante a pandemia foi o de plantas verdes, aquelas sem flor. De acordo com o Ibraflor, produtores chegaram a registrar aumento de até 20% nos negócios.
Especializado na produção de dracenas, que se adapta bem a ambientes internos, o produtor Roger Scholten, de Holambra, confirma o bom momento depois do susto provocado pela pandemia.
“Como as pessoas acabaram ficando mais tempo em casa, transformaram ambientes e compraram mais flores e plantas ornamentais. Além disso, com o distanciamento, muita gente enviou flores por delivery com presente, no Dia das Mães e Dia dos Namorados, por exemplo. Esse mercado foi bem aquecido”, avalia Ricardo Opitz, diretor do Ibraflor.
O aumento para o setor como um todo foi tão significativo, avalia o órgão, que compensa perdas que produtores de flores de corte tiveram com os cancelamentos de festas e eventos, que ainda retornam de forma tímida.
“Em janeiro, fevereiro e começo de março o mercado vinha bem, e o que projetávamos, de 10% a 15% de crescimento real, estava se concretizando. Daí veio a pandemia, e o final de março e abril foram duros, mas no final do primeiro semestre foi recuperando, mas abaixo do registrado em 2019. No entanto, julho, agosto e setembro foram meses muito bons, quando zeramos as perdas e equilibrou com o ano passado. Se mantiver essa expectativa, não vamos atingir o projetado lá atrás, mas devemos crescer 5%”, explica Opitz.
Aumento de produção
Na avaliação do Ibraflor, há uma tendência de que o trabalho em home office e alguns hábitos de consumos adquiridos durante a pandemia perdurem, o que faz o setor investir em aumento de produção para os próximos anos.
Segundo Scholten, a ideia é otimizar a produção na estrutura que possui atualmente, de um hectare de estufa e meio de área viveiro (pelada), e dobrar a produção anual que atualmente é de 100 mil vasos de dracenas.
“Acredito que a tendência veio para ficar, o brasileiro gostou e muitos outros produtores estão investindo. Quero melhorar a produtividade na mesma área. Como faço minhas mudas, investi em matrizes, para ter mais mudas. Se conseguir manter tudo bem alinhado, é possível ter produções por ano, já que a planta, na média, fica pronta para comércio em quatro meses”, explica o produtor.
Assim como o Ibraflor, Scholten também já trabalha com o cenário de aumento no faturamento depois de um início de ano temeroso. “Atingi o mesmo do ano passado agora, em outubro, e já estou em um ponto de lucro”, completa.